O uso criativo de recursos tecnológicos merece ser celebrado numa época em que o design visual é muitas vezes limitado a efeitos especiais que são tão vazios quanto barulhentos. Nesse sentido, “Aqui” — filme de Robert Zemeckis baseado em uma história em quadrinhos de Richard McGuire — destaca-se como uma conquista ímpar. Basta dizer que o protagonista do romance não é um indivíduo, mas uma casa. Mais precisamente, a sala de uma casa, registrada sob o mesmo ponto de vista e ocupada por indivíduos de diferentes gerações. Quase todas as cenas acontecem lá, mas o mundo exterior também é importante. As informações chegam pela televisão e as mudanças ocorrem nas ruas atrás da grande janela.
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Responsável pelo roteiro, em parceria com Eric Roth, Zemeckis não desiste de sua ambição. As cenas cobrem um arco absoluto, desde os dinossauros até os dias de hoje. Os períodos históricos entrelaçam-se de forma não linear numa sucessão unida por eixos temáticos – em particular, as frustrações decorrentes de sonhos sempre adiados.
Mas, apesar da enorme variação cronológica, o interesse concentra-se, em última análise, em sequências que indicam o núcleo de uma única família. Os clipes restantes chegam à tela de maneira um tanto solta e dispersa. No elenco, Tom Hanks e Robin Wright – que protagonizou outro filme do diretor, “Forrest Gump” (1994) – interpretam seus personagens em diferentes idades, um truque possibilitado por dispositivos técnicos avançados.