O pequeno avião pousou no aeroporto de Ubatuba, litoral norte de São Paulo, sob condições climáticas “humilhantes” na manhã desta quinta-feira, caracterizadas por nuvens baixas, chuva e ventos fortes. A aeronave Cessna 525, que saiu de Mineros, em Goiás, às 8h54 e tentou pousar no litoral de São Paulo por volta das 10h, explodiu após colidir com a cerca do aeroporto, atravessou a marginal em chamas e parou na Praia do Cruzeiro.
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– No momento do pouso havia camadas estratiformes de vento e nuvens com alta umidade, impossibilitando a visão completa do piloto. Na verdade, o avião se deparou com uma situação muito perigosa, explica o meteorologista Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (LAPIS), em entrevista à Globo.
A análise de Barbosa revelou que o cenário meteorológico no momento do acidente foi influenciado pela circulação marítima e pelo sistema de baixas pressões na costa de Ubatuba. Além disso, o cisalhamento é um fenômeno atmosférico que pode ser definido como uma rápida mudança na corrente do vento.
– É evidente que as imagens de satélite mostram a presença de cisalhamento. São ventos em diferentes direções e velocidades diferentes. É um cenário complicado. Ao analisar a radiossonda paulista, conjunto de sensores que medem pressão, temperatura, umidade, direção e velocidade do vento, vi uma situação inusitada. Além disso, houve formação de brisa marítima associada à baixa pressão. O meteorologista disse que esse sistema favorece chuvas contrastantes e nuvens muito baixas no momento do acidente.
– Falha em controlar o tráfego e determinar a rota
Segundo a operadora do aeroporto, Rede VOA, as condições meteorológicas “deterioraram-se, com chuva e pista molhada”. A ausência de controle de tráfego aéreo e a pista limitada – apenas 560 metros poderiam ser utilizados na direção escolhida pelo piloto – complicaram a tentativa de pouso. O comunicado do aeroporto afirma que “não possui controlo de tráfego aéreo devido à diminuição do tráfego em cerca de 5.000 movimentos anuais”.
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A pista do Aeroporto de Ubatuba tem 940 metros de extensão e cobertura asfáltica. A extensão será teoricamente compatível com as necessidades do avião, que necessita de 789 metros, segundo dados do fabricante. Porém, relatório do Departamento de Controle do Espaço Aéreo da Força Aérea Brasileira apontou que a distância inicial de 380 metros em direção à praia, onde o avião tentou pousar, só está indisponível para manobras. Assim, faltavam 560 metros para pousar.
O aeroporto confirmou em comunicado que neste sentido restam apenas 560 metros disponíveis para aterragem. O texto destaca ainda que a cabeceira 9, como é chamada a única pista do aeroporto, quando utilizada em direção à costa (a oposta é chamada de 27) é “selecionada pelo piloto”.
A pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que tem capacidade para receber voos comerciais muito maiores, tem 1.940 metros. A aeronave no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, tem 1.323 metros de altura.
O acidente resultou na morte do piloto Paolo Sergio Sighito, de 55 anos. Os passageiros – um casal e seus dois filhos pequenos – foram transportados para a Santa Casa de Ubatuba, em estado estável. A Câmara Municipal de Ubatuba divulgou informações conflitantes sobre outros feridos que teriam sido atingidos por destroços em uma pista de skate próxima ao aeroporto. Mas houve apenas um caso de uma mulher que teve que ir ao hospital porque tentou se proteger e torceu o pé.
Investigações em andamento
O CINEPA da Força Aérea Brasileira (FAB) e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) investigam as causas do acidente. Suspeita-se que o piloto tenha perdido o ponto de pouso e tentado dar meia-volta.
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O avião estava em boas condições e possuía certificado de verificação de aeronavegabilidade válido até 3 de setembro de 2025. Segundo o registro, transportava sete passageiros mais o piloto e era movido por dois motores a jato.
Segundo a delegada Ana Carolina Pereira de Oliveira Macedo, chefe da delegacia que investiga o acidente, Sighito foi avisado sobre as más condições climáticas na véspera do acidente.
(*Estagiário de Lua Marinato)