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O colunista do GLOBO José Eduardo Agualusa está radicado em Moçambique e decidiu deixar o país devido ao caos político que começa a assombrar a região desde que o partido Frente de Libertação de Moçambique – que está no poder desde 1975 – dominou as eleições. Pelo principal adversário nas urnas, o pastor evangélico, Venâncio Mondlane.
– Nas últimas eleições, o movimento que historicamente esteve na vanguarda do país, e que liderou a luta pela independência [de Portugal]da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique]É claro que este movimento cometeu fraudes durante as eleições. Tem havido uma série de irregularidades que foram condenadas, não só pelos observadores internacionais presentes, mas, mais recentemente, até por altos funcionários da própria Frelimo, o partido no poder.
No entanto, o Conselho Constitucional, o mais alto tribunal de Moçambique, reviu e confirmou na segunda-feira a vitória do candidato da Frelimo, Daniel Chapo, no contestado resultado eleitoral de 9 de Outubro, prolongando o mandato de 50 anos da Frelimo no poder, com uma margem de menos de 50 anos. Anterior.
Chapo obteve 65% dos votos, segundo a decisão dos sete juízes, superando os resultados preliminares de cerca de 71%, anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral em novembro. Mondelein permaneceu em segundo lugar com 24,19% dos votos (em comparação com cerca de 20% de acordo com os resultados da CNE).
Mesmo sem provas, o candidato da extrema direita do país, segundo o escritor, declarou-se vencedor da eleição. Seguindo a linha de raciocínio seguida por outros líderes de direita em todo o mundo, ele também apelou aos residentes através das redes sociais – quando saiu de Moçambique – para se manifestarem contra o resultado considerado fraudulento. Mas devido à falta de uma estrutura estabelecida para organizar as manifestações, segundo Agualosa, o movimento que começou de forma pacífica se transformou em “uma tragédia absoluta”.
– O que acontece é que ele não tem estrutura. Ele se vinculou a um partido pequeno, que antes não se conhecia, para poder concorrer presencialmente nas eleições, mas não tem estrutura por trás dele. . Portanto, essas multidões saíram às ruas sem nenhuma organização, e o inevitável aconteceu: esse movimento, que a princípio era pacífico, rapidamente se transformou em saques, ataques a empresas e residências e, enfim, uma tragédia absoluta – diz Agualosa.
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Contudo, segundo Agualosa, outros partidos da oposição pretendiam anular o resultado daquela eleição e realizar novas eleições, mas nem a situação nem Mondlane aceitaram essa opção.
A situação ideal seria formar um governo de transição para organizar estas eleições num contexto mais justo. Nem o partido no poder, a Frelimo, nem Venâncio Mondelana aceitaram esta situação. O que Venâncio Mondelana exige é a transferência imediata do poder. Ele diz que a expressão que usa é o reconhecimento da “verdade eleitoral”. Este “fato eleitoral” é um reconhecimento da sua vitória, como explica o escritor. Ele continua: – Nem ele pode fornecer provas da sua vitória, nem a Frelimo, portanto a solução razoável é, de facto, cancelar as eleições.
Após quatro dias de protestos em Moçambique, o escritor acredita que a violência pode aumentar devido à falta de vontade do Estado em lidar com a realidade actual.
O Estado é muito frágil, as forças armadas são muito frágeis e a própria polícia não está preparada. Some-se a isso o facto de estas multidões não terem estrutura orgânica, são desorganizadas. “Em última análise, a previsão é que esta violência, este caos se torne mais intenso”, projeta Agualosa.
Segundo a imprensa local, viaturas, esquadras e portagens também foram alvo de vandalismo no norte do país, onde a oposição é forte.
“Grupos de indivíduos portando facas e armas de fogo atacaram delegacias de polícia, centros de detenção e outras infra-estruturas”, disse o ministro do Interior, Pascual Ronda.
Ele acrescentou que mais de 70 pessoas foram presas. Acrescentou em declarações à imprensa que nessas ocorrências foram queimadas 25 viaturas, duas das quais policiais, além de 11 esquadras e prisões, das quais escaparam 86 reclusos. Os protestos pós-eleitorais já deixaram mais de uma centena de mortos, e o principal candidato, Mondlane, que reivindica vitória, apelou à intensificação do movimento.