Em 2022, Ni Latorraca, que morreu nesta quinta-feira (25 anos) aos 80 anos, recebeu uma música para chamar de sua. “Seu Neyla” foi escrita pela atriz e autora Heloisa Périssé para seu amante, que na época comemorava 60 anos de carreira. Na época, Berisset conversou com o GLOBO sobre os sentimentos de escrever para alguém que admirava muito:
- Heloísa Beresi: “Soltei o freio de mão e fui para o fundo do poço.”
-Nay é um personagem incrível. Sempre há uma história profunda com as pessoas que cruzam seu caminho. Escrevi sobre a personalidade dele, seu senso de humor exagerado, mas no fundo todo mundo se identifica com essas cores fortes, porque ele é um ator real, profundo. A flauta é como um bom perfume: alcança e domina.
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Não é de surpreender que a cena seja popular nos bastidores da televisão: quando Nye consegue uma tomada, todos param e assistem.
Criou o espetáculo “Seu Neyla” combinando o mundo digital com o teatro em tempo real em meio à pandemia de Covid. Nye participou da comédia musical Remote, From Home.
A narrativa girava em torno de quatro atores (Helga Nemetic, Tina Gallo, Bruno Fraga e Pedro Henrique Lopez) e um diretor (Aloysio de Abreu), que ensaiavam uma peça sobre a trajetória artística de um dos maiores ícones da cena brasileira.
Em entrevista à Globo, o ator disse que cavar em sua caixa interior para criar o roteiro abalou suas estruturas.
– Estudar a nossa história nos afeta. Eu não sou feito de aço, sou? Falo muito da minha mãe… Ela faleceu em 1984, eu tinha 49 anos e ela 71 anos. Ela foi muito clara, me ligou e disse: “Ni, você é um ótimo filho e eu acho que você é um ótimo ator”. Você fez grandes coisas, ‘Os Anarquistas’, ‘Rabo di Tanura’ e eu tive sucesso no teatro, e vi isso na vida e estou feliz.” Sua última frase para mim foi: “Eles pegaram a geléia hoje mesmo” – lembra ele, referindo-se ao material acetato usado para colorir as luzes do palco.
A dramaturgia incorporou a realidade. Tem Covid, lockdown, fechamento de espaços culturais. Os acontecimentos narrativos se desenrolam após a reabertura dos teatros, quando o homenageado não chega para os ensaios. Num enorme telão de LED, colocado no centro do palco, aparece o protagonista: Ney Latorraca. No total, são 13 faixas com músicas que vão do romance ao humor. Músicas antigas da carreira de Nye, como “Meu mundo cair”, por exemplo, são misturadas com “Triste com tesão”, de Pablo Vitár.
O conteúdo mais importante desta obra é o mergulho na memória nacional e cultural, principalmente das novas gerações – o de maior destaque naquela época foi o diretor José Bossi Neto. — Brincamos no texto que o Brasil sofre do mal de Alzheimer cultural. Este passeio pela memória formativa de artistas e profissionais brasileiros do teatro, cinema e televisão é prazeroso.