Aos quatro anos, Nei Latorraca, que morreu nesta quinta-feira (25) aos 80 anos, ficava sozinho à noite na sala onde morava com os pais. Saíram para trabalhar e o menino teve que ficar quieto, sem fazer barulho, para não ser descoberto. A pensão não aceitava crianças. Ao se despedir, a mãe aconselhou: “Sonhe, meu filho. Porque as coisas acontecem na mente.”
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-Aprendi a agir para sobreviver. Eu tinha que ser engraçado para ganhar os sapatos e o dinheiro de alguém para o almoço na escola. Eu ainda mantenho isso até hoje. Tem uma flauta que fica quieta consigo mesma, pensando em suas dores e inseguranças, e uma flauta que se transformou de duas pessoas para dançar e cantar, foi o que disse o artista em entrevista ao GLOBO em 2022.
Até se tornar ator, ele conseguiu o melhor que pôde. Sua mãe fazia lancheiras que ele entregava antes de ir para a escola, pagas por um amigo da família. Ao longo do caminho, fiz amizade com vendedores de comida de graça.
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– Minha mãe ensinou: “Seja sempre amigo do gordo”. Não teve outro jeito, a mãe dele me deu comida e eu até levei ele para casa. O conde parece desesperado. Mas não! Houve tanta alegria.
Inspirado pelas músicas que ouvia o pai cantar e a mãe tocar violão, Nay formou uma banda na escola, o Conjunto Eldorado. Ele leu as letras das músicas de Frank Sinatra e Dick Varney no papel em que sua namorada escreveu.
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Ele não gostava que o público dançasse enquanto ele falava. Ele queria toda a atenção para si mesmo. Ele alcançou seu objetivo quando teve apenas um teste para escalar o pirata com pernas de madeira na produção de “Bluft, Little Ghost” de Seraphim Gonzalez. Aos 18 anos conquistou seu primeiro papel. E a vida mudou completamente (“comecei a me encontrar, me tornei impossível”).
Tão impossível que bateu à porta de Casilda Baker. Ela o encaminhou para a Escola Paulista de Artes Dramáticas, onde se formaram atores como Leonardo Villar, Gloria Menezes e Joca C. Oliveira. Durante o curso de três anos, Nye trabalhou em um banco, foi vendedor em uma loja de pedras semipreciosas e gerente de loja. Eu morava em um estúdio sem geladeira ou fogão. Ele comeu macarrão instantâneo e sopa fornecida pela EAD antes do início das aulas.
No dia da formatura, Marília Pera, madrinha de carreira, teve que repetir o juramento: “Se eu não arrumar um emprego para ele, vou morrer com a boca cheia de formiga”. Desde então, Nye vem encenando peças, trabalhando com diretores como Adhemar Guerra, Luiz Sérgio Persson e Antonés Filho.
A fama e o sucesso vieram com a série “Escalada” da TV Globo. Um contrato de três meses se transformou em um home run de 48 anos. Estabeleceu importante parceria com o diretor Walter Avancini, com quem implementou projetos literários adaptados como “Anarquistas, pela Graça de Deus”, “Memórias de um Cafetão”, “Rabo di Tanura” e “Grande Sertão: Veridas”. Depois de diversas séries e minisséries, além de filmes cinematográficos, experimentou um exercício diferente com “TV Pirata” em que interpretou o papel de Barbossa.
– Foi emocionante, não foi? Eu estava apresentando uma peça de Shakespeare e sempre alguém gritava da plateia: “Fala, Barbossa”.
– Estudar a nossa história nos afeta. Não sou feito de aço, sou? Falo muito da minha mãe… Ela faleceu em 1984, eu tinha 49 anos e ela 71 anos. Ela foi muito clara, me ligou e disse: “Ni, você é um ótimo filho e eu acho que você é um ótimo ator”. Você fez grandes coisas, ‘Os Anarquistas’, ‘Rabo di Tanura’ e eu tive sucesso no teatro, vi isso na vida e estou feliz.” Sua última frase para mim foi: “Hoje eles pegaram a geléia certo” – lembra, referindo-se ao acetato usado para colorir luzes de palco.