Em carta a Haddad, Galipolo cita dólar, alimentos e arcabouço fiscal ao explicar inflação fora da meta

Em carta a Haddad, Galipolo cita dólar, alimentos e arcabouço fiscal ao explicar inflação fora da meta


Em carta dirigida ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Gabriel Galipolo, afirmou que o principal motivo do desvio da inflação da meta de 3,0% em 2024 foi a depreciação da taxa de câmbio, causada principalmente por fatores internos, em particular frustração com o cenário fiscal.

O documento foi divulgado na sexta-feira. O prefeito também citou o forte ritmo de crescimento da atividade econômica brasileira e os eventos climáticos como motivos que explicam o não cumprimento da meta, bem como o aumento das expectativas de inflação.

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O índice oficial de inflação do Brasil fechou o ano passado em 4,83% e ficou fora da meta. A meta é de 3,0%, com faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%. Esta é a oitava vez que esta meta não é alcançada desde 1999. Nos últimos quatro anos, registaram-se três falhas.

Caso o objectivo não seja alcançado, o chefe do banco central deve dar explicações ao Ministro das Finanças e expor as razões do seu insucesso na sua principal missão institucional.

Olhando para o nível de 3,0%, Galipolo disse que os principais factores que contribuíram para o desvio da inflação em 1,83 pontos percentuais relativamente à meta foram a chamada inflação importada (contribuição de 0,72 pontos base), a inércia do ano anterior (0,52 pontos base) e o hiato do produto (0,49 pontos base) e as expectativas de inflação (0,30 pontos percentuais).

A inflação importada é o dólar e commodities como alimentos e petróleo. O hiato do produto significa que a economia está aquecida. As expectativas geram inflação à medida que os preços são ajustados devido a esse fator.

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Dentro da inflação importada, o aumento do dólar frente à moeda brasileira foi mais significativo, com impacto ascendente na inflação de 1,21 ponto percentual. Contudo, parte deste efeito foi compensado pela descida dos preços internacionais do petróleo (-0,59 pontos percentuais). .

A carta destaca que a taxa de câmbio passou de R$ 4,95 em média no último trimestre de 2023 para R$ 5,84 em média no mesmo período de 2024, com variação de 18,0%. Considerando a média de dezembro de 2023 e 2024, a taxa de câmbio passou de R$ 4,90 para R$ 6,10, uma variação de 24,5%, o que corresponde a uma desvalorização do real de 19,7%.

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No documento, o presidente do BC afirma que a desvalorização cambial começou em abril e se intensificou ao longo do ano, principalmente por fatores internos, apesar da valorização do dólar globalmente devido à possibilidade de cortes mais lentos nas taxas de juros nos Estados Unidos e no Estados Unidos. A mudança das expectativas na economia com a eleição de Donald Trump também teve impacto.

Como vector interno da subida do dólar, Gallipolo apontou especificamente a frustração dos agentes económicos com o cenário fiscal, algo que já tinha sido notado em comunicações emitidas pelo Comité de Política Monetária (COPOM).

“O fato de o real ter sido a moeda que sofreu a maior desvalorização em 2024, dadas as suas congêneres no nível internacional e nos países desenvolvidos, indica que fatores locais e específicos do Brasil desempenharam um papel importante neste movimento cambial no nível local. , a carta afirmava que a percepção dos agentes sobre o impacto econômico no cenário financeiro influenciou significativamente os preços dos ativos e as expectativas dos agentes, especialmente as expectativas de prêmio de risco, inflação e taxa de câmbio.

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O impacto da frustração com a gestão das contas públicas na valorização do dólar ficou claro no final do ano passado. Pouco depois de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciar o pacote de contenção de custos, que o mercado financeiro considerou tímido, a moeda norte-americana ultrapassou a marca histórica de 6 reais e não caiu mais, mesmo com a aprovação dessas medidas.

No documento, Gallipolo destaca ainda que o crescimento da atividade económica, que surpreendeu em alta ao longo do último ano, foi forte e também contribuiu para uma inflação acima do intervalo permitido. O BC estima expansão de 3,5% do PIB em 2024.

“O grau de utilização dos fatores de produção tem aumentado, enfatizando a taxa de desemprego historicamente baixa. O mercado de trabalho apresentou resultados fortes em 2024. A taxa de desemprego continuou a diminuir rapidamente, atingindo 6,5% em novembro (dados ajustados sazonalmente)”, o mais baixo. valor Na série histórica”, disse ele sobre as pressões decorrentes do aquecimento do mercado de trabalho.

Em relação aos desastres climáticos, a Colúmbia Britânica destacou que a seca que atingiu parte do país pressionou os preços dos alimentos, especialmente carne e laticínios, devido à deterioração das pastagens, e de produtos como café e laranja. As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram alguns preços dos alimentos no segundo trimestre, principalmente no próprio estado, segundo o BC, mas se reverteram em grande parte nos meses seguintes. O BC estima que as anomalias climáticas tiveram efeito direto de 0,38 ponto percentual na variação do IPCA em 2024.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o principal fator para o aumento do IPCA para 2024 foi o aumento dos preços dos alimentos, principalmente das carnes, seguido dos custos com saúde e cuidados pessoais e despesas com transporte. Os três grupos do IPCA responderam por cerca de 65% dos resultados do ano passado.

Na carta, além de explicar os motivos do não cumprimento da meta de inflação para 2024, o chefe do Banco Central referiu-se às estratégias da autoridade monetária para alcançar a convergência inflacionária.

A este respeito, Gallipolo destaca que o Banco da Colômbia já aumentou a taxa básica de juros, a Celic, principal ferramenta para conter a inflação. “Portanto, o Banco da Colômbia tomou as medidas necessárias para garantir que a inflação atinja a meta de inflação”, disse ele.

Atualmente, a taxa Selec (taxa básica de juros) é de 12,25% ao ano, e o BC já indicou dois novos aumentos de um ponto percentual para janeiro e março, levando a taxa para 14,25%, mesmo patamar do pico de Dilma. A crise do governo Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016.

Coboom sublinhou ainda que face ao cenário mais negativo de convergência da inflação, espera, caso o cenário esperado se confirme, ajustamentos da mesma magnitude nas próximas duas reuniões.

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Segundo cálculos do Banco da Colômbia, a taxa de juro real (líquida das expectativas de inflação) deverá subir de 7,9% no último trimestre de 2024 para 9,8% no terceiro trimestre de 2025, tendo em conta as médias da pesquisa Fox. Esta seria a taxa mais restritiva desde 2005 (12,3%). Entra então numa trajetória descendente, atingindo 6,4% no segundo trimestre de 2027, ainda acima da taxa neutra (que não leva nem à diminuição nem ao aumento da inflação) de 5%.

Galipolo não foi chefe do Banco Central durante todo o ano de 2024, mas foi diretor de política monetária, principal pasta do órgão, antes de substituir Roberto Campos Neto.

O candidato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva deve escrever uma segunda carta este ano. Essa avaliação é baseada nas projeções oficiais do cenário de referência de inflação do BC, publicadas no Relatório de Inflação (RTI) trimestral do BC.

A partir deste ano, o sistema de verificação de metas será contínuo, e não no final de cada ano civil. A meta será considerada perdida quando o IPCA acumulado em 12 meses se desviar do período de tolerância por seis meses consecutivos. A meta atualmente é de 3,0%, com faixa de tolerância de 1,5% a 4,5%.

Pelas projeções da Colúmbia Britânica, o IPCA deve ultrapassar o limite superior pelo menos até o final do terceiro trimestre de 2025, quando a estimativa é de 5,1%. Ou seja, desde o início do novo regime, a inflação permanecerá fora da meta por pelo menos nove meses.

Nesse caso, Gallipolo, como chefe da autoridade monetária, terá que se dirigir ao ministro da Fazenda em carta aberta após o IPCA de junho para explicar os motivos do descumprimento, indicar as medidas necessárias para a convergência inflacionária e o prazo previsto . Para que as medidas tenham impacto. O novo sistema também estipula que será necessária uma nova carta caso a inflação não volte à meta no prazo determinado.

Mesmo que o BoE regresse à meta no final do ano, ainda não há previsão de quando a inflação regressará à meta de 3,0% nas previsões oficiais. Na RTI, a última estimativa é para o 2º trimestre de 2027, quando o cenário de referência indica IPCA de 3,2%.



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