Depois de serem reeleitos em algumas das capitais mais populosas do país, os presidentes de câmara de oito cidades iniciam os seus novos mandatos tendo em vista as disputas estaduais de 2026 e questões desafiantes como a mobilidade urbana, a segurança pública e as alterações climáticas. Em lugares como Rio, Recife e Maceió, prefeitos que hoje ocupam o cargo há mais quatro anos pretendem concorrer a governador, situação que os obrigaria a antecipar o término do mandato. Em São Paulo, Belo Horizonte e Manaus, os vereadores tendem a agir como defensores dos aliados. Em Salvador e Porto Alegre o cenário é incerto e não é improvável que prefeitos entrem em disputas governamentais.
- Leia mais: Reeleição do prefeito da Bósnia e Herzegovina, Fuad Numan, que assumirá o cargo à revelia devido ao tratamento contra o câncer
- política: Prefeitos tomam posse no primeiro dia em mais de 5.500 cidades do país; Veja como será a festa nas grandes capitais
Nos dois maiores colégios eleitorais do país, Rio e São Paulo, os prefeitos têm perspectivas diferentes para 2026: Eduardo Paes (PSD) é cotado para ser candidato ao governo do Rio, enquanto Ricardo Nunes (MDB) já defendeu esse governo. Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado, concorre à presidência.
O movimento pode abrir caminho para que MDB e Nunes sucedam o estadual em São Paulo, embora o prefeito negue a intenção. Em entrevista ao “Uol” na semana passada, ele planejava concorrer ao governo em 2030, após terminar o mandato na capital e “ser ministro” em um potencial governo Tarcísio.
Por enquanto, Tarcísio diz que a disputa nacional cabe ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente desclassificado, e afirma que concorrerá à reeleição no estado. Mas a hipótese de uma viagem nacional não é absurda no seu entorno e pode atrapalhar os planos de outros estados. Um dos principais aliados do governador de São Paulo é o líder do Partido Social Democrata, Gilberto Cassap, que também apoia Paes – que cogita concorrer ao governo do Rio de Janeiro na plataforma do presidente Lula.
– Um projeto de açougueiro chamado Tarcísio. Se Tarcísio concorrer à presidência, qual será a posição de Paes em seu apoio a Lula? Se Paes pensa que vai dizer “serei candidato e todos vão me seguir”, engana-se – afirma o governador do Rio, Claudio Castro (PL), adversário de Paes.
Apesar da boa avaliação da capital, pesa sobre Paes a manifestação de lideranças políticas do interior do estado, incentivadas por Castro, contra o prefeito do Rio.
Além disso, tanto Paes como Nunes enfrentam desafios de segurança e transporte, que também são questões sensíveis noutras capitais. O prefeito de São Paulo inicia o ano com aumento de 13% nas passagens de ônibus, que passarão para R$ 5 após ficarem congeladas por quatro anos. No Rio, onde Paes também anunciou uma reformulação, enfrentou outro problema: a implantação de um novo sistema de bilhetagem eletrônica.
No que diz respeito à segurança, após campanha em que destacou a responsabilidade do governo do estado na região, o Pais já anunciou que discutirá o armamento de parte da Guarda Municipal, medida polêmica entre a base mais à esquerda.
O conflito entre prefeito e governador pela segurança se repete em El Salvador, onde o prefeito Bruno Reyes (UNIAO) culpou a administração de Jerónimo Rodríguez (PT) pelos altos índices de criminalidade, que ele chamou de “principal problema” da capital, Bahia . Após ser reeleito por ampla maioria de votos, seus aliados passaram a incentivar Reyes a concorrer ao governo do estado, vaga à qual também aspirava seu padrinho político, o ex-prefeito ACM Neto (União).
Reyes diz publicamente que a vantagem em 2026 é de Neto, e que pretende apenas completar o mandato. Se o fizer, só poderá tentar o governo em 2030, depois de ficar dois anos sem cargo. Foi a mesma situação que Neto enfrentou em 2022, quando acabou perdendo para Gerônimo.
— Bruno não é subserviente, mas muito leal ao ACM Neto, que é nosso líder e candidato ao governo. O ex-deputado Marcelo Nilo, aliado de Neto e hoje assessor especial da Câmara Municipal de Salvador, disse que ele (Reyes) terá um papel muito importante na indicação de Neto, porque é um prefeito bem conceituado, enquanto Geronimo tem uma administração medíocre.
Em Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas (PL) está em desacordo com o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), a candidatura em 2026 é dada como certa. Mas aliados de JHC, como é conhecido, dizem que ele ainda não decidiu se concorrerá a governador ou senador.
Caso concorra ao Senado, o JHC arquitetará uma “troca” de cargos com o ex-senador Rodrigo Cunha (Podemos), que renunciou ao Congresso e toma posse hoje como vice-prefeito de Maceió. Porém, nesse cenário, o JHC concorreria ao mesmo cargo que outro aliado, Arthur Lira (PP), quer concorrer em 2026, o que poderia atrapalhar o presidente da Câmara.
Outro prefeito visto como potencial candidato em 2026 é João Campos (PSB), que se reelegeu facilmente no Recife e disputou o governo de Pernambuco.
Em capitais como Belo Horizonte e Manaus, os prefeitos reeleitos Fouad Nauman (PSD) e David Almeida (Avanti) são atores importantes em 2026, mas fora das urnas. Fouad, que hoje deve participar remotamente de sua cerimônia de posse, por problemas de saúde, aguarda a decisão da Diretoria de Segurança Pública sobre sua candidatura ao governo de Minas. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, foram incluídos na lista.
Na capital amazonense, Almeida se comprometeu a apoiar o senador Omar Aziz (PSD-AM) ao governo do estado, numa chapa que deve polarizar com o bolsonarianismo.
– Omar (Aziz) será o candidato do presidente Lula ao governo, e o PT terá espaço na lista majoritária – observou o ex-deputado Marcelo Ramos, que foi candidato do PT à prefeitura de Manaus contra Almeida este ano.
Mas o cenário pode mudar caso o atual governador Wilson Lima (Uñao), aliado de Bolsonaro, renuncie para concorrer a outro cargo. Neste caso, a cadeira vai para o vice-governador Tadeo de Sousa (Avanti), aliado próximo de Almeida. Em 2022, apoiou o prefeito Bolsonaro contra Lula.
Enquanto Almeida sofria com a seca em Manaus, Sebastião Melo (MDB) era outro prefeito cuja administração estava estressada por eventos climáticos extremos. Após ser reeleito em Porto Alegre após a crise das enchentes, Melo despontou como a escolha de Bolsonaro para concorrer ao governo gaúcho, embora o nome natural do BDB seja vice-governador Gabriel Sousa, aliado de Eduardo Leite (PSDB).