Antes de se tornar uma potência olímpica, o Brasil precisa se tornar uma nação esportiva. Este é o exemplo que os países desenvolvidos nos dão e que fica bem evidente nos Jogos Olímpicos. Investem fortemente, ligando o desporto à educação, à saúde e à cultura, em iniciativas que estão enraizadas na comunidade e que já provaram a sua eficácia. Em todos os estudos disponíveis, qualquer investimento real no desporto tem por vezes um retorno maior, seja através da redução de despesas futuras com saúde, segurança ou educação. Num momento em que se questiona a Lei de Incentivos ao Desporto (LIE), num projecto que prevê a contenção da despesa pública (PL 210/24), isso parece-me contraditório, porque o desporto retribui sempre.
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Como Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro pelos próximos quatro anos, minha missão será lutar para ampliar a base de praticantes esportivos. Embora responsável pela alta performance, o COB precisa olhar atentamente para o treinamento e contribuir de perto com todo esse equipamento, que só funciona com apoio básico do LIE. De 2007, quando foi implementado, até hoje, a mudança no cenário esportivo foi tremenda. Além disso, a função educativa e social dos projectos nem sequer pode ser medida devido à sua importância. Em última análise, formar os cidadãos com os valores do desporto é inestimável.
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Toda a minha tristeza e medo ao ver o esporte sofrer derrotas na Câmara e no Senado se transformaram em esperança ao ver a atuação de um grupo muito teimoso defendendo-o com todas as forças. Não poderia ser diferente para quem veio desse esporte. As derrotas nos dão vantagem, nos ensinam a voltar e lutar pela vitória. Já existem projetos que visam garantir o funcionamento permanente do LIE. Não apenas como mecanismo, mas como política de Estado, que é o que é e onde fará a diferença para o melhor desenvolvimento do nosso país.
Estudos da UNESCO indicam que programas esportivos nas escolas podem reduzir as taxas de evasão escolar em até 20% e gerar economias de até R$ 3 por investimento real. Além do mais, destacam que reduz os índices de criminalidade em até 30%. O próprio Ministério da Saúde “confirma que políticas públicas de incentivo ao esporte podem reduzir em até 30% o risco de doenças crônicas”. O Banco Mundial estima em seus relatórios que “cada dólar brasileiro investido em políticas de incentivo à atividade física poderia economizar de duas a quatro vezes esse valor em despesas”. O problema é que ainda investimos muito pouco. Apenas 0,02% do orçamento federal é investido no esporte. Nos estados é de 0,2%, e nos municípios é de 0,9% – até 2%. Estes números baixos apenas reforçam a necessidade de uma ferramenta complementar.
Para alta performance e criação de novos campeões, contamos fortemente com a Lei de Incentivo ao Esporte. O COB fará a sua parte e estará cada vez mais presente, mas a sociedade precisa entender que esporte não é só ganhar medalhas. Incentiva uma verdadeira transformação, em que títulos e cargos passam a ser secundários. O rendimento muito alto é a exceção. (Bom) Menos de 0,1% dos atletas conseguem se tornar atletas olímpicos, e o grande legado esportivo está justamente nos 99,9% restantes. Tornam-se cidadãos através do desporto e continuarão esta onda de transformação nas suas comunidades.
*Marco Laporta é o presidente eleito do Comitê Olímpico Brasileiro