Mário Viana, ex-árbitro de futebol, foi o primeiro comentarista de arbitragem do país, e um de seus bordões, amplificado pela caixa de eco da Rádio Globo, foi um grito que voltou a assombrar minha consciência no início da semana passada.
Da área do Maracanã, irritado com alguns erros cometidos pelo titular da casa em campo, Mário Viana – enfatizou o ponto, “com dois enes” – gritou com voz penetrante “Falta!” Errado!” Ele descreveu o juiz como “o denunciante”.
Na segunda-feira passada, quando abri minha caixa de correio, houve o mesmo grito, feito agora por queridos leitores. O denunciante, neste caso o denunciante, fui eu. “Errado! O colunista errou!”, escreveram duas dezenas de escritores após lerem o texto publicado naquele dia sobre Tom Jobim.
Todos, com absoluta convicção, entre os quais um importante produtor musical da época e um grande amigo do tema, sustentavam que, ao contrário do que estava escrito, o compositor nunca viveu na Rua Barão da Torre 107, onde hoje funciona o auditório.
O jornalista Ricardo Bochat era um grande amigo meu e começamos como repórteres no mesmo dia, na mesma redação, no Diário de Notícias da Rua do Riachuelo. Mais tarde, ele se tornou uma verdadeira estrela, trabalhando ao telefone em busca de novidades para sua coluna aqui no O Globo. Às vezes ele pedia a uma fonte que lhe fornecesse informações, mas era melhor que estivessem erradas, porque então a coluna precisaria refutá-las na edição do dia seguinte – e então haveria menos notas para investigar.
“A vida de um dançarino é difícil”, escreveu Bouchat no final de algumas colunas, um mestre em investigação cuidadosa, saboreando sua aventura fracassada de escrever uma coluna diária contendo informações exclusivas.
O meu “erro”, que foi me dar esta segunda coluna e a lembrança do bom humor de Boechat, estava nas duas últimas linhas do texto. Os leitores me “corrigiram”, apresentando como fonte confiável uma música de Tocinho e Vinicius de Moraes, “Carta ao Tom 1974”. A música começa com “Rua Nascimento Silva 107 / Você ensina para Eliseth as músicas da Canção do amor loja”.
Outro grande amigo que fiz na redação foi Artur Zexiu, autor de “Fita-Banana”. A vida de jornalista-dançarina também era difícil para ela, pois dançava duas vezes por semana, às quartas e aos domingos. A fita banana, no comércio, é uma fita dupla-face, também utilizada em teatro para marcação de cenas. Nas Crônicas de Xexéo ele seleciona temas a partir do comentário de um leitor e continua a cada semana com uma descoberta que cola na carta de outro leitor, sempre com muita graça, a partir do desenho de palavras, chave do bem. Na sequência, havia Xexéo desdobrando fibra por meio de uma barra de banana que lhe garante semanas de assunto.
Esta barra de banana hoje indica que Tom Jobim morou no Nascimento Silva 107, onde não só apresentou as músicas do LP “Canção do amor loja”, com o qual Eliseth Cardoso e João Gilberto abriram a bossa nova, mas também compôs todas as outras das Colheitas Pesadas ao início da década de 1960, porém, dirigiu-se depois para a Rua Barão da Torre, por uma surpreendente coincidência também no edifício nº 107 – e da Aí veio a confusão. Estamos todos prontos para ir – e esta barra de banana acaba, embora nunca se saiba, tão graciosa como costuma ser.