A Amazônia virou Cerrado? Entenda as mudanças que podem libertar um agricultor da floresta

A Amazônia virou Cerrado? Entenda as mudanças que podem libertar um agricultor da floresta


A Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso (ALMT) aprovou nesta quarta-feira um projeto de lei que permite que áreas antes classificadas como Amazônia sejam designadas como Cerrado. Se aprovada, a nova legislação permitiria aos produtores rurais reduzir a sua área de reserva legal (ARL). Na região do Cerrado o percentual é de 35%, enquanto na região Amazônica chega a 80%.

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A mudança nos critérios de designação de biomas para uso rural poderá afetar mais de 9,6 milhões de hectares – cerca de 10% das terras de Mato Grosso, segundo o Observatório Socioambiental de Mato Grosso (Observa-MT). O texto foi aprovado por 15 votos a 8.

A ARL foi criada pela Lei 12.651/2012. A legislação determina que cada propriedade rural deverá manter uma parcela coberta por plantas nativas, área de conservação obrigatória.

A justificativa para a conservação das ARLs é garantir o uso econômico sustentável dos recursos naturais das propriedades rurais, ajudar a manter e reabilitar os processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de animais silvestres e plantas nativas.

A área do imóvel que deve constituir uma ARL varia conforme a localização do imóvel rural:

  • Amazon Legal: 80%
  • Cerrado: 35%
  • Áreas públicas: 20%
  • Outras áreas: 20%

O texto original foi baseado em uma proposta do governo do estado que tratava da melhoria da base de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que o estado utiliza para fins ambientais.

Porém, ao chegar à Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado, o projeto sofreu alterações a partir de alternativa apresentada pelo deputado estadual Nininho (PSD).

Segundo Edeline Amaral, assessora jurídica do Observa-MT, os parlamentares “decidiram rediscutir completamente a reabilitação de plantas nativas sem qualquer base científica”. A reportagem solicitou posicionamento do parlamentar, mas não obteve resposta.

O texto original foi apresentado à Assembleia Legislativa de Mato Grosso no dia 22 de maio, recebeu parecer positivo da Comissão de Meio Ambiente e foi assinado pelo deputado estadual Carlos Avaloni (PSDB), presidente do grupo.

A proposta mencionava apenas alteração na classificação dos elementos vegetais para fins de designação de reserva legal em propriedades rurais. A medição será feita pelo IBGE, que utiliza a escala 1:250.000. Atualmente, a escala de mapeamento aprovada, da Radam Brasil, é de 1:1.000.000, ou seja, menos precisa.

O Radam é um projeto iniciado pelo governo federal na década de 1970 para pesquisar recursos naturais e organizado pelo Ministério de Minas e Energia.

Alice Thule, pesquisadora do Observa-MT, classificou a aprovação do projeto como “lamentável”, pois a medida “contraria todas as metas ambientais estabelecidas pelo governo do estado”.

– Parece que esses objetivos são para os ingleses verem – afirma a pesquisadora.

Procurado pelo GLOBO, Avallone afirmou que votou contra a medida. Segundo o parlamentar, o projeto “não foi estudado adequadamente” e teve posição divergente da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), de ONGs e do IBGE.

“Acho que o governo vetará todo o projeto”, diz Avalon.

“Esclarecimentos devem ser solicitados ao Legislativo estadual, pois a proposta original nada tem a ver com o texto aprovado”, disse Seema em nota. A secretaria confirmou que após a devolução do projeto ao governo, o procedimento será encaminhado para análise técnica e jurídica.

— Durante os trabalhos da Assembleia, a Secretaria enviou uma nota técnica à Comissão de Meio Ambiente indicando possíveis violações. Quando recebermos o projeto, o SIMA reforçará o que já foi avisado, e se posicionará a favor do veto da proposta – explica Maureen Lazareth, ministra do Meio Ambiente de Mato Grosso.

Vice-Comandante em Desmatamento

Em 2024, a taxa anual de desmatamento em Mato Grosso atingirá o menor nível desde 2013, segundo levantamento realizado pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram desmatados 1.271,03 km² no ano passado (21,85% do total da Amazônia legal), valor apenas inferior ao registrado no Pará.

O estado também aparece em segundo lugar nos indicadores da Amazônia Legal na série histórica iniciada em 2008, com 25.778,30 km² desmatados (19,19% do total no período de 17 anos).

Dados do Inpe mostram que Mato Grosso foi o segundo estado com mais focos de calor no país no ano passado. Foram 50.551 casos (18,2% do total), ante 56.070 casos registrados no Pará (20,1%).



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